Teatro Sá da Galinha apresenta...
O meu filho tem uma imaginação daquelas mesmo dramáticas. Conseguia fazer um argumento para um filme classificado como super-drama assim em três tempos. E também podia ser o protagonista, porque ao contar a história faz estalinhos com a língua, encolhe os ombros, torce os lábios, franze o cenho, faz o beiço... Enfim, toda uma peça de teatro!
O pequeno tem ficado desconsolado todas as manhãs no infantário. Começa a fazer beicinho mal vê a entrada do infantário e chora que se mata ao chegar ao salão onde são acolhidos os filhos dos madrugadores como eu que têm que chegar ao trabalho às 8h. Felizmente nesse bocadinho ficam os dois juntos no mesmo espaço, até que cada auxiliar os leva mais tarde para as respetivas salas. Então deixo sempre o recado ao mano mais velho para ficar um pouco ao pé do irmão e tentar brincar com ele até ele se acalmar.
Ontem lembrei-me de perguntar ao mais velho como estava a correr o processo.
- O mano chora muito depois da mamã ir embora?
Depois de franzir o cenho e de um chiscar de língua diz-me: - Sim
- E tu ficas com ele um bocadinho?
- Sim, mas depois vou brincar.
- E a X (auxiliar mega fofinha que fica com eles) depois cuida do mano?
- Sim.
Entretanto vira a expressão para susto/acontecimento muito importante e diz-me:
- Mas o mano trilhou o dedo na cancela.
A cancela é uma barreira que existe na porta do salão para poderem ter a porta aberta e os meninos não fugirem. Eu já estava pronta a levantar-me para ir ver a mão do pequeno, se tinha alguma marca, já a começar a imaginar a gritaria e o desconsolo dele depois do acidente. Lembrei-me antes de perguntar:
- E alguém ajudou o mano depois dele se magoar, filho?
- Sim.
- Quem foi?
- Os bombeiros, a policia... (no meio disto um encolher de ombros e cara de pesar).
Aprendizagem: Para a próxima tenho que aguardar um pouco mais pelo fim da história antes do coração começar a bater muito depressa.
E sobre a conversa que ontem aqui contei, hoje o rapaz continuava muito preocupado com o meu descanso. Ao chegar à escola, perguntou-me novamente se no meu trabalho eu não tinha cama e se dormia de pé. Deve estar com medo que o meu chefe me encontre a dormir à frente do pc!