Querias uma manhã tranquila, era?
Depois de acordares trezentas e doze vezes de noite, e sonhares mil coisas nos poucos intervalos que dormes, o teu pequeno acorda-te todo cagadinho, a cheirar mal e a chamar por ti.
Mal consegues abrir os olhos, mas lá te levantas para tentar silenciar o mais novo e evitar que o mais velho acorde tão cedo.
Limpas a cagada, das leite e entretanto aparece o irmão mais velho. Olhas para o relógio e começas a ficar ansiosa com as horas.
Vão os dois para a sala destruir tudo enquanto vais buscar a roupa para os vestir. O mais novo parece um contorcionista de circo enquanto tentas enfiar as calças. Para conseguires enfiar os braços na camisola tens que o por de pé a brincar com o mano no sofá. Olhas para os olhos dele e pensas que tens que ir buscar uma compressa para limpar as remelas, mas entretanto ele cai e começa a chorar e as lágrimas tratam do assunto.
E por estar hora 100 kcal já foram.
Começas a vestir o mais velho. Até se está a portar muito bem. Tiras camisola do pijama, vestes camisola do fato de treino. Tiras calças do pijama e pões as meias. Espera lá, onde estão as cuecas? Tinhas trazido tudo para a sala. Olhas para o lado e vês o mais novo com as ditas cujas na boca. Pronto, não faz mal, vestes na mesma que hoje até está calor e se estão um bocado húmidas vão secar rápido certamente.
Putos vestidos, começas a sentir aquela vontade de fazer xixi. Pois sim, aguenta lá a pinguinha que não há tempo para isso.
Todo o mundo para a cozinha, pão com manteiga para um, pão simples para o outro. Enfias a marmita na mala para o trabalho. Viras costas e vestes a camisola e as calças. Não há tempo para cremes nem maquilhagem, só umas borrifadelas de perfume e uma escovadela nos dentes. Voltas à cozinha após os dois minutos que demoraste a vestir-te. As migalhas de pão que estão espalhadas no chão ofuscam a visão e entras na cozinha com o aspirador em punho qual escudo de proteção.
Aspiras chão, aspiras mesa, sacodes miúdos, voltas a aspirar a lixarada toda que caiu da roupa deles. Mandas para a entrada calçar e vestir casaco. Lavas uma maçã e colocas no móvel junto à porta de saída.
Ajudas a calçar e vestir casacos, calças os sapatos e entretanto das pelo teu filho mais velho a comer o teu pequeno-almoço. Não faz mal, algo se há de arranjar no trabalho.
Entras na garagem, sentas e prendes os miúdos na cadeira. Chegas ao infantário, trocas duas palavras, beijinho, xau, abraço, vens embora. Entras no carro, róis o resto de maça que o teu querido filho te deixou para o pequeno-almoço. Quase tens um ataque de pânico a lembrar-te no estado em que deixaste a casa. Não há de ser nada, logo arruma-se.
Relativizas. Inspiras, expiras.
Chegas ao trabalho, assentas arraiais e assumes que, neste momento, a tua carreira profissional evoluiu ao ponto de começar diariamente mais ou menos da seguinte forma:
E andou uma pessoa a estudar para isto...