Próxima candidata a boa samaritana
E eis que tenho andado um pouco ausente...
Só para verem o meu grau de cansaço, às 10h35 da matina já ia no terceiro café. Então fazer a viagem de manhã com o sol a nascer a bater no focinho, o calor que se faz sentir e as vozes da rádio a embalar-me, tem sido assim qualquer coisa de outro mundo. Às vezes chego ao trabalho e nem sei bem se fiz a viagem ou se fui teletransportada.
Mas hoje o tópico não são as minhas noites merdosas. Hoje o tópico é esta leveza que se faz sentir após ter doado quatro sacos grandes de brinquedos, mais outros tantos de roupa, produtos de higiene e por aí fora.
Desde que se deu o desastre em Moçambique que tenho pensado em ajudar. Sei que há muita pobreza e desgraça no mundo, sei que não é preciso ir tão longe. Mas a aflição que sinto quando penso naqueles meninos, que já por si tinham uma vida desgraçada, e ficaram agora sem menos de nada e sem família, já me tinha levado a pensar que queria contribuir de algum modo. Para além disso os meus antepassados vieram todos de Moçambique e sinto algum carinho pelo lugar e pelas historias que ouço de lá, apesar de nunca lá ter estado.
Com receio de enviar coisas que fossem cair nas mãos erradas, andei a protelar a ajuda. Esta semana uma colega de trabalho enviou um e-mail com um pedido feito por uma associação com quem costuma trabalhar, e decidi então avançar. Ontem fui às compras e trouxe alguns dos artigos que pediam no e-mail. Depois cheguei a casa e comecei a pensar em todos os brinquedos, roupas e afins de bebé que lá tinha e que já não precisava.
Normalmente sou desapegada dos bens materiais e não gosto de guardar coisas. Se não serve ou não se usa, bye bye que se faz tarde. Costumo entregar numa casa de acolhimento para mulheres que estão a ser vitimas de violência domestica e que lá são acolhidas temporariamente com os filhos, pelo que já não tinha grande coisa em termos de roupa para entregar. Tinha sim alguns produtos de higiene para bebés, visto que o meu filho é esquisito e tivemos que andar a doar órgãos para comprar e testar os produtos disponíveis na farmácia até acertar com um.
E brinquedos, amigos, brinquedos... Ai mãezinha tanta coisa que lá andava sem ser usada. O pimpolho mais velho gosta de brincadeiras físicas, bicicletas, trotinetes, carros, corridas, bolas... O mais novo gosta de tudo menos brinquedos: tupperwares, colheres, tachos, comandos, telemóveis....
É obvio que não desalojei todos os brinquedos que eles tinham, mas posso considerar que fiz uma grande limpeza. A maior parte dos brinquedos de bebé foram embora, pois não conto ter mais nenhum bebé a rondar a minha sala (pronto, podem ser sobrinhos, mas esses são em part-time). Tendo em conta a quantidade de peluches que recolhi e que vou enviar, em breve a associação faz mas é um apelo para não enviarem mais daqueles bichos peludos. Ainda hoje estou para conhecer uma criança que goste de ter vinte peluches e que brinque com eles! Expliquem-me senhores, expliquem, quem é que alguma vez gostou de brincar com peluches? Se calhar eu e os meus filhos é que somos estranhos.
Mas isto tudo para concluir que adoro estas limpezas, sentir a casa e o arrumo mais leve, tudo organizado e a fazer mais sentido (sim, guardar coisas desinteressantes para mim não faz sentido). Espero que estes bens cheguem às mãos destes pequenos que tanto precisam de ajuda e que tenham um futuro mais promissor que o que teriam em minha casa.
E que estas desgraças acabem e que nunca tenha que viver algo assim. E mais não digo.